De onde vêm as boas ideias?

15/11/2013

Há cinco anos venho investigando a questão sobre de onde vêm as boas ideias. Acho que é um problema pelo qual todo mundo está intrinsecamente interessado. Queremos ser mais criativos, queremos ter ideias melhores, queremos que as nossas organizações sejam mais inovadoras. Observei esse problema sobre a perspectiva do meio em que vivemos, quais são os espaços que fizeram história ao gerar níveis extraordinários de criatividade e inovação?

Descobri que em todos esses sistemas, existem padrões recorrentes com os quais nos deparamos repetidas vezes e que são cruciais para criar meios que são extraordinariamente inovadores. Batizei um desses padrões de palpite lento, ou seja, as ideias revolucionárias quase nunca surgem num momento de grande perspicácia, em um surto repentino de inspiração, as ideias mais importantes levam muito tempo para evoluir e passam um bom tempo dormentes, hibernadas. Só quando as ideias completam dois, três anos, às vezes dez ou vinte anos amadurecendo, é que se tornam exitosas e úteis.

Isso porque as boas ideias normalmente surgem da colisão entre dois palpites menores que formam, portanto, algo maior que eles próprios. É comum observar na história da inovação casos de alguém que tem metade de uma ideia. A grande história da invenção da internet e Tim Berners-Lee, ele trabalhou dez anos nesse projeto, mas no inicio ele não tinha uma visão completa do novo meio que acabaria inventando. Ele começou a trabalhar num projeto secundário que lhe ajudasse a organizar os próprios dados, mas acabou descartando o projeto depois de alguns anos e começou a trabalhar em outra coisa. Só depois de dez anos surgiu à visão completa da internet.

Veja abaixo a animação dublada:

É assim com muito mais frequência do que imaginamos que as ideias surgem. Elas precisam de um tempo de incubação e passam um bom tempo nessa forma de palpite parcial. Outra coisa importante ao considerarmos as ideias dessa maneira é que quando elas ganham formas nesse estado de palpite precisam colidir com outros palpites, geralmente aquilo que transformam um palpite em algo extraordinário é outro palpite que andou povoando a mente de outra pessoa. Temos que pensar em formas de criar sistemas que permitam que esses palpites se unam e se tornem algo maior do que quando eram partes independentes.

Por exemplo, é por isso que os cafés durante o Iluminismo e os salões parisienses do Modernismo eram motores de criatividade, pois eles criavam um espaço onde as ideias pudessem se misturar, se combinar e gerar novas formas. Ao observar a problemática da inovação sobre essa perspectiva é possível esclarecer de maneira importante o debate recente sobre o que a internet tem causado ao nosso cérebro. Estamos ficando desgastados com o estilo de vida multifuncional e conectado 24 horas? Por exemplo, será que isso levará a ideias menos sofisticadas a medida que nos afastamos do estado da leitura que é contemplativo, mais lento e mais profundo?

É obvio que eu adoro ler, mas eu acho que é importante lembrar que o grande propulsor da inovação cientifica e da inovação tecnológica sempre foi o aumento histórico na conectividade e na nossa capacidade e buscar outras pessoas com quem possamos trocar ideias e pegar emprestado palpites alheios, combiná-los com nossos próprios palpites e transformá-los em algo novo. Na minha opinião, isso tem sido mais do que tudo, o motor primordial da criatividade e da inovação nos últimos 600 ou 700 anos.

Pois é, é verdade que estamos mais distraídos, mas ocorreu algo milagroso e maravilhoso nos últimos 15 anos, temos tantas novas formas de nos conectar e tantas novas formas de buscar e encontrar novas pessoas que possuem aquela peça que faltava pra completar a ideia com que estávamos trabalhando, ou de nos deparar por acaso com alguma informação nova e incrível que podemos usar para desenvolver ou melhorar as nossas próprias ideias. É essa a verdadeira lição sobre de onde vêm as boas ideias: o acaso favorece a mente conectada.


???? Artigo escrito por  Steven Johnson, citado como um dos mais influentes pensadores do ciberespaço pela Newsweek, New York Magazine e Websight. Editor-chefe e co-fundador da Feed. Formado em Semiótica pela Brown University e em Literatura Inglesa pela Columbia University. Autor dos livros: Cultura da Interface, De cabeça aberta, Emergência, entre outros.


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