Copa impulsiona mercado da tradução

09/03/2011

Muitas atividades terão a demanda ampliada nos próximos anos. O mercado de tradução é um dos que despontam como promissores. Tudo em razão de o País contar com eventos que irão movimentar a agenda turística. Consequentemente, haverá necessidade de traduzir o idioma dos visitantes ao português, e vice-versa.

A Copa do Mundo dará as caras por aqui daqui apenas três anos. Na sequência, o Brasil será sede dos Jogos Olímpicos, em 2016.

O diretor da Millennium Traduções e Interpretações, Pérsio Burkinski, estima que o mercado na área avançou 13% – apenas no ano passado. Para este ano, aposta em 25%.

Ele conta que o mercado tem potencial para expansão. Tudo em razão de sua concentração: São Paulo reúne 80% do setor.

O que ajuda a ampliar os horizontes da área é o fato de o mundo estar com os olhos voltados ao País. O mercado interno estar aquecido e despontando em vários setores, como o imobiliário, serve como isca para impulsionar investimentos estrangeiros. Com a atenção que o País tem conquistado, atrações relacionadas ao mercado brasileiro – além de atividades que pegam carona na Copa e Olimpíadas – aportam por aqui. Assim, aumentam as possibilidades de profissionais tradutores e intérpretes.

“Tudo isso gera uma série de eventos, e não apenas congressos, que trazem uma série de empresas internacionais. O negócio precisa de tradutores de escrita, documentos e profissionais que fazem tradução simultânea para facilitar o diálogo”, reforça.

Burkinski frisa ainda que muitas vezes trabalhadores entendem o inglês, o idioma recorrente nesses tipos de eventos. Contudo, podem se sentir inseguros na hora de de intermediar a conclusão de negócios, devido à falta de domínio na língua.

Apesar de as atrações turísticas programadas para aportarem em terras brasileiras nos próximos anos prometerem movimentar o mercado de idiomas, há divergência quanto ao termômetro de contratações nesse mercado. Na percepção do gerente de projetos do Grupo Foco – empresa de recursos humanos – Rudney Pereira Jr., a abertura de vagas ainda é “muito tímida”.

Especialização é dica para atuar na área

A dica dos especialistas na hora de buscar espaço no ramo é a especialização. A ideia é focar no segmento de trabalho. Burkinski se dá como exemplo. Ele estudou administração, mas estudou e trabalhou nos Estados Unidos. “A demanda é justamente por profissionais de negócios, mas falta gente com qualificação necessária”. E os caminhos para o sucesso costumam ser diversos para se tornar tradutor. Desde uma formação em letras até cursos específicos. Vivências fora do País também contam pontos. Mas tudo isso vai depender do empenho, já que o nível de aprendizado de idiomas varia mesmo de pessoa para pessoa.

O piso do profissional, segundo o Sintra (Sindicato Nacional de Tradutores), nas traduções para o português é de R$ 24 por folha com 30 linhas e 2.100 letras. Há cobrança à parte por direitos autorais. Para intérpretes, Burkinski diz que costuma-se pagar de R$ 700 a R$ 1.400 nos eventos. O piso do Sintra para tradução simultânea é de R$ 1.500, nas conferências de 1h.

“Oportunidades de mercado tem de monte e a tendência é subir. Se tivermos poucas pessoas preparadas e o mercado pedir, esse profissional poderá cobrar o quanto quiser”, sustenta Pereira.

Falta de regulamentação é obstáculo para setor

A falta de regulamentação do profissional tradutor é um dos obstáculos que impedem a ampliação do segmento. Mas não é único fator. Segundo Pereira, o “fator turismo” – déficit de atenção das autoridades quanto à relevância desse serviço – também tem parcelas de culpa.

Por tabela, a demanda por tradutores ainda está ofuscada pela baixa oferta, com pouca qualificação. “Não temos nada de insfraestrutura para receber ninguém e nenhuma das pessoas que trabalham na área falam outro idioma para atendimento básico. Haverá necessidade muito grande dessa mão de obra em razão dos eventos esportivos e olímpicos. Mas a verdade é que esse mercado nunca se preparou”, afirma Pereira.

Mas é preciso pressa. A avaliação de Pereira é que dificilmente o País consiga dar conta da demanda que as atrações previstas já geram. “Temos anos ainda para os eventos, mas precisamos correr literalmente atrás do tempo. É a mania do brasileiro de deixar tudo para a última hora”, sustenta o especialista.

Por Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário

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