Clarisse Goulart no Festival do Rio

17/10/2011

Ela tem lugar garantido em todas as sessões do Festival do Rio. No Cine Odeon tem a seu dispor a melhor poltrona da suntuosa sala de projeção, localizada na primeira fila do segundo andar do prédio. Clarisse Goulart é a pessoa responsável pela legendagem dos curtas e longas da mostra.

Por isso mesmo ela pode se dar o luxo de falar que vê todos os filmes do Festival, sem precisar disputar espaço com outros anônimos nas imensas filas que se formam do lado de fora e até com celebridades. Várias vezes, quanto aos filmes mais concorridos, houve casos de artistas que não conseguiram poltronas se arrumaram em algum canto, na escada mesmo. Não é o caso de Clarisse.

A produtora cultural, de 30 anos, classifica sua função como “legendadora” ou simplesmente “lançadora de legendas”. Quando o filme é em português, a legenda vai em inglês. Se o filme for de alguma outra língua, a legenda é em português. Mas o trabalho não é tão simples.

Ela precisa ficar atenta para qualquer eventualidade. “Acontece muito de soltar a legenda fora da hora. Isso porque quando me mandam o filme, muitas vezes ele não é a edição final, a que vai ser exibida. Então surgem distorções que o público pode perceber”, conta Clarisse, expert em inglês, espanhol e francês. “Mas também consigo me virar com filmes em japonês”, garante.

Teclado nas mãos

Nada de saco de pipocas. É munida com um teclado em seu colo, ligado por cabos que vão para duas telas de computadores a sua frente, que Clarisse se concentra em cada fala dos personagens. Sua equipe é integrada por outros quarenta “legendadores” e tradutores, que se intercalam entre os cinemas que passam filmes do Festival.

O software que ela usa tem o seu nome. Isso porque foi ela mesma quem inventou. “É mais prático do que o powerpoint, que costumava travar muito durante os filmes. Fiz algo mais simples, basta eu ficar com o dedo na tecla ‘enter’ e saber a hora de apertar”, explica.

A equipe do iG acompanhou algumas horas de trabalho de Clarisse, durante a exibição de três curtas, na noite deste domingo (16). Descanso ela só teve na exibição do primeiro trabalho, “Cavalo”, sem falas. Portanto, sem legendas para “lançar” na tela. Ainda assim, Clarisse acompanhou atenta o que se passava.

Com tantos filmes vistos em quase duas semanas de evento, a lançadora de legendas tem as suas preferências. “Gostei de ‘Uma longa viagem’, de Lucia Murat. E de um outro, espanhol, ‘Todas as canções’. São ótimos, recomendo”, diz. Há também, claro, os filmes que prefere esquecer. “Tem aqueles que aparecem cenas grotescas, nem lembro o nome”, conta. Nem tudo é diversão no escurinho do cinema.

Fonte: iG Rio de Janeiro
Texto: Valmir Moratelli
Fotos: George Magaraia

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